Um país sério não pode adiar a educação técnica híbrida

Hélio Laranjeira

8/19/20252 min read

O Brasil vive um paradoxo educacional: enquanto o mundo avança na consolidação da educação híbrida como modelo natural do século XXI, seguimos amarrados em burocracias e ausências normativas que emperram a expansão da Educação Profissional Técnica de Nível Médio.

O resultado é cruel e previsível: não cumprimos a Meta 11 do Plano Nacional de Educação (PNE), que previa ampliar significativamente o número de matriculados em cursos técnicos até 2024. Enquanto países da OCDE atingem 46% de jovens no ensino técnico, o Brasil mal chegou a 17,2%. Pior: continuamos sem uma diretriz nacional que dê segurança jurídica às instituições, aos Conselhos Estaduais e, principalmente, às famílias que veem na educação técnica o caminho mais rápido para a empregabilidade.

O nó da burocracia

A Constituição já prevê o regime de colaboração entre União, estados e municípios. Porém, na prática, cada sistema estadual cria regras próprias, sem um parecer vinculante do Conselho Nacional de Educação (CNE) que unifique critérios. O resultado é uma colcha de retalhos: instituições impedidas de expandir polos, alunos sem acesso em regiões periféricas e um mercado de trabalho carente de técnicos, que permanece à espera de soluções.

Essa omissão normativa não é neutra. Ela gera insegurança jurídica, limita a expansão territorial e bloqueia o direito à aprendizagem de jovens e adultos que dependem da EaD e do modelo híbrido como chance real de ascensão.

Enquanto isso, lá fora…

Nos Estados Unidos, blended learning é realidade há mais de uma década. Países latino-americanos como Chile e Colômbia avançaram em políticas que integram itinerários técnicos ao ensino médio, com forte apoio governamental e segurança normativa. No Brasil, seguimos discutindo se um polo pode ou não funcionar fora do estado de origem da instituição, como se estivéssemos presos ao século passado.

Não é razoável que, em plena era digital, a tecnologia seja vista como ameaça, quando deveria ser solução.

Um chamado ao CNE

A situação exige que o CNE assuma protagonismo e produza um parecer claro e vinculante sobre o tema. É preciso estabelecer:

  • Protocolos comuns para autorização e reconhecimento de polos EaD;

  • Critérios de reciprocidade entre Conselhos Estaduais;

  • Integração efetiva da educação técnica híbrida ao Novo Ensino Médio;

  • Garantia de segurança jurídica para instituições sérias que queiram expandir sua atuação.

Sem isso, qualquer discurso sobre inovação, empregabilidade ou combate à evasão escolar será vazio.

Conclusão

Um país sério não posterga a regulamentação da Educação Técnica Híbrida. Um país sério entende que não é a modalidade que importa, mas a aprendizagem e a empregabilidade que ela gera.

Enquanto não enfrentarmos essa omissão com coragem e visão de futuro, continuaremos a colecionar metas descumpridas, jovens desmotivados e empresas carentes de mão de obra qualificada.

O Brasil precisa decidir se quer ser protagonista ou espectador no cenário educacional global. O tempo da dúvida já passou. O que falta é ação.