Resposta ao artigo de Vahan Agopyan

Hélio Laranjeira

9/10/20252 min read

O artigo de Vahan Agopyan traz uma defesa pertinente da Educação a Distância (EAD) como instrumento de inclusão no ensino superior brasileiro. Ao destacar experiências internacionais e dados da Univesp, o autor apresenta a modalidade como essencial para democratizar o acesso. No entanto, essa análise, embora valiosa, é parcial e incompleta. É preciso aprofundar o debate para que a EAD não seja vista apenas como número de vagas, mas como modelo de qualidade, inovação e verdadeira inclusão.

Inclusão Digital: a face esquecida da EAD

É inegável que a EAD amplia o acesso, mas não podemos ignorar que milhões de brasileiros ainda vivem excluídos digitalmente. A modalidade, sem infraestrutura adequada, pode se tornar mais uma barreira do que uma ponte. A inclusão só se concretiza quando acompanhada de políticas públicas de conectividade, equipamentos e letramento digital. Do contrário, falaremos de uma inclusão seletiva, que privilegia alguns e marginaliza outros.

Qualidade não é massificação

O autor cita exemplos de qualidade na Univesp e em algumas instituições privadas, mas a realidade brasileira mostra outro lado: a EAD como estratégia de massificação de baixo custo, com pouca tutoria, evasão elevada e cursos distantes das demandas do mercado. A verdadeira discussão não deve ser se a modalidade é válida, mas quais modelos pedagógicos garantem aprendizagem significativa, personalização e acompanhamento contínuo do estudante.

Empregabilidade com recorte setorial e territorial

Agopyan apresenta o aumento de renda dos alunos como dado geral. Mas a realidade é mais complexa: a empregabilidade varia por área e região. Enquanto cursos de tecnologia podem oferecer rápida ascensão salarial, outros, como pedagogia e serviços, enfrentam sobrecarga e baixos salários. Precisamos vincular a EAD a arranjos produtivos locais e políticas de empregabilidade, em vez de tratar números agregados como solução universal.

O risco da elitização invertida

Restringir a EAD pode gerar elitização, mas ignorar sua regulação pode levar a uma elitização inversa:

  • os ricos continuam em universidades presenciais de pesquisa,

  • enquanto os pobres ficam confinados a cursos EAD de baixo custo e pouca qualidade.

O desafio é construir uma EAD de excelência para todos, evitando que se torne uma modalidade de “segunda classe” destinada apenas aos mais vulneráveis.

Experiências internacionais: contexto importa

Citar a Open University do Reino Unido ou a Indira Gandhi Open University na Índia é válido, mas esquecer que esses países têm políticas consistentes de investimento e suporte estatal é um erro. O Brasil não pode apenas importar números; precisa criar um ecossistema nacional de EAD, sustentado em inovação, regulação e parcerias público-privadas, sob pena de repetir desigualdades já conhecidas.