R$ 90 mil por cabeça: O Brasil precisa recalcular sua rota educacional
Hélio Laranjeira
8/5/20252 min read


No país onde a desigualdade educacional se cruza com a desigualdade social, uma pergunta desconcertante precisa ser feita: quanto custa formar um estudante no Brasil - e o que realmente entregamos em troca?
Um levantamento recente revela que universidades federais como a Unifesp, UFRGS e UFSM têm um custo médio por aluno superior a R$ 75 mil por ano. No caso da Unifesp, o valor chega a R$ 93.472 por matrícula anual. Repito: noventa e três mil reais por ano, por aluno.
A conta é simples, mas o resultado é amargo. Quando dividimos a dotação orçamentária dessas instituições pelo número de matrículas registradas em 2022, descobrimos uma realidade pouco debatida: gasta-se muito com poucos e retorna-se pouco à maioria.
Crise da eficiência educacional
O investimento por si só não é um vilão. Educação de qualidade exige recursos. Mas há uma diferença brutal entre investimento eficiente e gasto ineficaz.
Essas universidades concentram bilhões de reais - mas não necessariamente entregam inovação, inserção no mercado ou respostas às necessidades regionais. Muitas continuam presas a um modelo analógico, verticalizado, burocrático e resistente à transformação digital.
Enquanto isso, o Brasil sofre com uma triste contradição: temos milhões de jovens fora da escola e um mercado com escassez de técnicos qualificados.
O ensino técnico como solução estratégica
Enquanto o ensino superior tradicional consome cifras bilionárias, um curso técnico híbrido, com foco prático, pode custar entre R$ 3 mil e R$ 5 mil por aluno/ano - formando profissionais em áreas como enfermagem, radiologia, informática, agroindústria e meio ambiente.
Com o valor de um único aluno da Unifesp, poderíamos formar mais de 20 técnicos altamente empregáveis. O retorno é imediato: geração de renda, inserção produtiva, ativação de arranjos produtivos locais e redução da evasão escolar.
Por que não canalizar parte desses orçamentos para ampliar o ensino técnico em escala nacional, com uso de tecnologia, flexibilidade curricular e foco em realidades regionais?
A desigualdade que se reproduz com recursos públicos
As universidades que mais recebem recursos estão, em geral, nos grandes centros urbanos. Já os jovens do interior, das periferias e dos territórios isolados seguem alijados do acesso - não por falta de inteligência, mas por falta de visão estratégica de política pública.
O resultado? O Brasil forma bacharéis desempregados e, ao mesmo tempo, importa técnicos de países vizinhos. É uma matemática cruel - e evitável.
Proposta de redesenho estrutural
Não se trata de abandonar o ensino superior tradicional, mas sim de diversificar a matriz educacional do país. Precisamos de:
Uma política pública de expansão do ensino técnico, com foco em empregabilidade.
Uso intensivo de plataformas digitais e inteligência artificial, para personalizar trilhas de aprendizagem.
Descentralização orçamentária, com foco nos arranjos produtivos locais.
Metas claras de formação técnica como contrapartida social dos grandes orçamentos federais.
Conclusão: O Brasil precisa escolher
O país precisa decidir se quer continuar investindo R$ 90 mil por aluno para formar futuros desempregados, ou usar R$ 4 mil para formar um técnico que pode mudar sua vida, sua cidade e seu país.
A educação não pode mais ser uma torre de marfim: ela precisa ser uma ponte para o futuro - e essa ponte começa com eficiência, ousadia e um novo pacto pela formação profissional.
