Professores na era da Inteligência Artificial: Desafios e perspectivas para a formação docente no Brasil

Hélio Laranjeira

9/15/20252 min read

A escola contemporânea não pode mais ser compreendida como um espaço restrito à interação binária entre professor e estudante. A emergência da Inteligência Artificial (IA) insere um terceiro elemento nesse processo, provocando mudanças substanciais no papel docente. O professor passa a atuar não apenas como transmissor de conteúdo, mas como mediador ético, curador de saberes e estrategista pedagógico. No entanto, o Brasil encontra-se atrasado na definição de políticas públicas voltadas à formação docente em IA. Enquanto organismos internacionais, como a UNESCO e a OCDE, já apontam diretrizes claras (UNESCO, 2025; OECD, 2021), o país permanece preso a planos nacionais desarticulados e a licenciaturas pouco adaptadas à realidade digital.

Referencial Internacional

Em 2025, a UNESCO publicou o Marco Referencial de Competências em IA para Professores, estruturado em 15 competências distribuídas em cinco dimensões: mentalidade centrada no ser humano, ética da IA, fundamentos e aplicações, pedagogia de IA e IA para o desenvolvimento profissional. As competências são organizadas em três níveis de progressão — adquirir, aprofundar e criar — funcionando como guia para políticas nacionais (UNESCO, 2025). A União Europeia, por meio do European Qualifications Framework (EQF), estabeleceu níveis de qualificação baseados em resultados de aprendizagem, permitindo clareza, mobilidade e comparabilidade internacional (EUROPEAN UNION, 2017). Já a OCDE recomenda a implementação de microcredenciais empilháveis e programas de atualização contínua, capazes de modernizar redes de ensino em prazos reduzidos (OECD, 2021).

O Cenário Brasileiro

No Brasil, a formação docente permanece fragmentada. As licenciaturas ainda não incorporam a transversalidade digital, e programas de formação continuada são pontuais e desarticulados (MOTA; GOLMEIER, 2022). Além disso, não existe um marco nacional específico para competências docentes em IA. Essa lacuna gera:

  • Professores inseguros quanto ao uso de tecnologias emergentes;

  • Alunos que consomem ferramentas digitais sem criticidade ou ética;

  • Ampliação das desigualdades entre redes privadas, que acessam tecnologias, e redes públicas, que carecem de recursos e formação.

Propostas de Superação

Para enfrentar esse desafio, são sugeridas as seguintes medidas:

  1. Criação de um Marco Nacional de Competências em IA para Professores, alinhado ao documento da UNESCO.

  2. Implementação de microcredenciais progressivas, avaliando competências práticas em sala de aula e não apenas carga horária.

  3. Formação híbrida em escala, utilizando polos EaD já existentes para massificar a atualização docente.

  4. Integração de IA na avaliação educacional, favorecendo diagnósticos precisos e feedbacks personalizados.

  5. Fomento à equidade, garantindo que professores de redes públicas tenham acesso às mesmas oportunidades de formação que docentes da rede privada.

Considerações Finais

A Inteligência Artificial não substitui o professor, mas redefine seu papel. O futuro da educação brasileira depende da capacidade de formar docentes que dominem a IA como ferramenta pedagógica e ética. A ausência de políticas nacionais robustas ameaça ampliar desigualdades e comprometer a aprendizagem significativa. A adoção de um marco nacional inspirado na UNESCO, associado a programas de microcredenciais e formação híbrida em escala, representa um caminho viável para que o Brasil deixe de ser espectador e assuma protagonismo na construção da educação do século XXI.