PNE em Buffering — Metas altas, download lento e upload nenhum
Hélio Laranjeira
10/24/20252 min read


Quando o plano é perfeito demais para ser executado
O Plano Nacional de Educação (PNE) é um daqueles documentos que dariam inveja a qualquer país.
Tem metas, estratégias, indicadores, gráficos e promessas.
Tudo muito bem diagramado.
O único problema é que o Brasil ainda não aprendeu a transformar PDF em prática.
Planejar, o país sabe.
O que falta é fazer o download da execução.
Metas altas, execução travada
O PNE é o espelho do nosso costume de sonhar grande e agir devagar.
Enquanto o texto legal fala em “universalizar”, “erradicar”, “garantir”, “assegurar” e “promover”, a realidade das escolas fala em “falta”, “espera”, “atraso”, “pendência” e “revisão”.
O plano é ambicioso.
Mas está rodando em modo buffering (bâ-ferin) — aquele momento em que a tela gira, o som para, e a esperança trava.
A década que virou replay
De 2014 a 2024, o PNE virou um déjà vu pedagógico.
Das vinte metas, poucas saíram do papel, algumas ainda estão em avaliação, e a maioria ficou no PowerPoint das intenções.
A meta da universalização da pré-escola?
Ainda há crianças fora da sala.
A meta da alfabetização plena?
Seguimos tentando alfabetizar a própria política pública.
A meta de investimento de 10% do PIB?
Talvez, somando o PIB da esperança com o câmbio da paciência.
Burocracia de alta definição
O Brasil conseguiu transformar o planejamento educacional em arte abstrata.
O PNE virou um avião de papel com plano de voo, torre de controle e relatório de decolagem — mas que nunca sai do chão.
Enquanto o sistema educacional prepara relatórios e metas, o chão da escola continua com piso gasto, laboratório apagado e professor sem conexão.
É o país do Ctrl+C normativo e Ctrl+V pedagógico.
O que Paulo Freire diria
“A leitura do mundo precede a leitura da palavra.”
Mas no Brasil, a leitura do decreto precede qualquer ação.
Se Paulo Freire estivesse entre nós, talvez ensinasse a converter metas em protótipos, leis em execução e PowerPoints em política pública funcional.
Freire falava em consciência crítica.
Hoje precisamos de consciência digital.
Porque educação sem download é só discurso em buffering.
O que o novo PNE precisa aprender
O próximo plano — se quiser fazer história — precisa menos de PowerPoint e mais de protótipo pedagógico.
Menos meta, mais entrega.
Menos relatórios, mais realidade.
Menos reuniões, mais resultados.
O PNE não precisa ser reinventado.
Precisa ser executado.
E para isso, o Brasil precisa de gestores com banda larga de ação e memória RAM política — porque planilha sem prática é poesia administrativa.
Conclusão
O Brasil não falha por falta de planos.
Falha por falta de download concluído.
A verdadeira revolução educacional não está nas metas que definimos, mas nas que temos coragem de cumprir.

