Freiriana do futuro — "Decretaram a inclusão, mataram o sentido”

Hélio Laranjeira

10/28/20252 min read

O Brasil conseguiu o impossível:

decretou a inclusão…

e excluiu o sentido.

O Decreto nº 12.686/2025 é a prova viva de que, por aqui, até a empatia precisa de carimbo.

Criaram uma Política Nacional de Educação Especial Inclusiva que não inclui,

mas decreta.

Porque, no Brasil, inclusão não se constrói —

se publica no Diário Oficial.

O decreto da contramão

Na contramão da Constituição.

Na contramão da LDB.

Na contramão da LBI.

Na contramão da humanidade.

É tanto contramão que a educação brasileira virou rotatória:

o aluno entra, roda, roda, e volta pro mesmo lugar —

sem aprender a sair do círculo.

A mágica da igualdade fabricada

O texto é simples:

basta colocar todo mundo na mesma sala

e pronto — o Brasil virou inclusivo!

É o milagre da planilha:

onde a diferença some e o Excel ganha protagonismo.

Paulo Freire, coitado, deve estar bufando no além.

Ele ensinou que educar é reconhecer o outro,

mas o decreto aprendeu outra lição:

educar é padronizar o diferente.

As escolas especiais viraram fantasmas

Antes, elas acolhiam.

Agora, resistem.

Aquelas que davam dignidade aos que o Estado esquecia,

viraram clandestinas do amor pedagógico.

E a ironia maior:

o governo que fala de inclusão

está excluindo quem mais inclui.

Os professores: os novos Dom Quixotes

Lá estão eles,

lutando com o giz contra os moinhos do descaso.

Fazendo milagre com papel, boa vontade e lágrima.

Enquanto o decreto os observa de longe,

do conforto do gabinete com ar-condicionado e wi-fi.

As famílias: a plateia da pseudo-inclusão

Prometeram inclusão.

Entregaram uma peça de teatro.

Pais e mães assistem de longe seus filhos “progredirem”…

sem aprender a ler.

Aplaudem boletins sem sentido,

porque é tudo automático — até a ilusão.

A pedagogia dos gabinetes

Os técnicos do MEC vivem num metaverso próprio,

onde as leis são perfeitas,

os alunos são dados,

e os problemas… viram comitês.

De tão distantes do chão da escola,

já nem pisam no chão —

flutuam sobre siglas.

O país das intenções

É curioso:

toda vez que o Brasil tenta resolver algo,

inventa uma sigla.

Agora, o nome é bonito: Educação Especial Inclusiva.

Mas o conteúdo…

é tão vazio quanto a reunião de sexta-feira no fim do mandato.

Diálogo imaginário com Paulo Freire

Paulo Freire:

“Meu filho, o que fizeram da educação?”

Eu:

“Professor, decretaram a inclusão.”

Paulo Freire:

“E o que isso significa?”

Eu:

“Significa que agora todos estão incluídos…

até quem não entendeu o que é inclusão.”

A contradição perfeita

Criaram uma política para todos,

que não atende ninguém.

Um decreto sobre humanidade,

escrito sem ouvir humanos.

Um texto sobre inclusão,

feito para justificar a exclusão.

É o Brasil normativo:

onde a caneta é mais forte que a consciência.

O protesto poético

A verdadeira inclusão não nasce em Brasília.

Nasce no olhar de quem acredita no outro.

Nos professores que adaptam por amor.

Nas escolas que resistem sem verba.

Nas famílias que não desistiram de sonhar.

“Decretaram a inclusão.

Assinaram em papel timbrado.

Mas esqueceram de incluir o essencial:

o ser humano.”

FREIRIANA DO FUTURO:

para lembrar que nenhuma política pública educa,

se for escrita sem escutar o público que educa.