Educar na era da IA: O professor no centro da transformação
Hélio Laranjeira
8/6/20252 min read


A educação está diante de uma encruzilhada. De um lado, os desafios persistentes da desigualdade, da exclusão e da obsolescência dos métodos tradicionais. Do outro, o avanço incontrolável da inteligência artificial — poderosa, veloz, e capaz de remodelar não apenas o modo como ensinamos, mas principalmente o modo como aprendemos.
Em 2025, a UNESCO lançou o Marco Referencial de Competências em IA para Professores, um documento histórico que reconhece uma lacuna há muito ignorada: a falta de diretrizes claras para preparar o professor para o mundo digital e inteligente em que já vivemos. O documento é mais que uma recomendação técnica — é um chamado urgente à ação.
Durante muito tempo, discutimos IA como se fosse um recurso futuro. Mas ela já está nos algoritmos que sugerem o que o aluno deve estudar, nas plataformas que corrigem automaticamente, nas salas de aula híbridas, nos aplicativos de reforço, e até nas ferramentas que ajudam a planejar aulas. A pergunta não é mais “se” a IA deve fazer parte da educação, mas “como” ela será incorporada sem desumanizar o processo formativo.
O marco da UNESCO parte de cinco dimensões fundamentais — da ética ao desenvolvimento profissional — e propõe uma progressão em três níveis: adquirir, aprofundar e criar. Esse modelo propõe uma formação continuada viva, contextualizada, com os pés na realidade do professor e os olhos no futuro dos estudantes. É um convite à reinvenção da docência, não à sua substituição.
A IA não é inimiga do professor. É sua nova aliada. Mas, para isso, é preciso preparar o professor com responsabilidade, autonomia e intencionalidade pedagógica. Não basta entregar tecnologia: é preciso formar mentalidade crítica, ética, criativa e centrada no humano. O documento acerta ao colocar o professor como protagonista da mediação entre máquina e mente.
O Brasil, infelizmente, ainda engatinha na formulação de políticas públicas que dialoguem com essa nova era. A maioria dos nossos programas de formação docente ainda ignora as reais exigências do século XXI. Precisamos de uma agenda nacional que transforme esse marco da UNESCO em política pública: nos currículos das licenciaturas, nos programas de capacitação continuada, e nas redes de ensino públicas e privadas.
A urgência não é tecnológica. É humana.
Ou formamos educadores capazes de dialogar com a inteligência artificial de forma ética e construtiva, ou continuaremos reproduzindo uma escola do século XX para estudantes do século XXI, operando com lousas em um mundo de algoritmos.
O marco da UNESCO nos dá a bússola. Resta agora ao Brasil decidir se vai continuar à deriva… ou se vai navegar rumo ao futuro com os professores no leme.
