Educação híbrida não é modismo: É justiça educacional no século XXI
Hélio Laranjeira
8/7/20253 min read


Nos últimos meses, assistimos a um recrudescimento das críticas à educação mediada por tecnologia, sobretudo em decorrência do novo marco regulatório da EaD e de interpretações apressadas sobre a “volta aos livros físicos”, como no caso sueco. O que deveria ser um debate pedagógico qualificado tem sido capturado por uma visão nostálgica e romantizada da sala de aula tradicional, como se o retorno à lousa e ao giz resolvesse os abismos educacionais do Brasil.
Precisamos reagir — com dados, ciência e responsabilidade histórica.
Escolarização não é sinônimo de educação
A defesa cega da presencialidade total ignora que o Brasil tem milhões de estudantes desconectados da escola por outros motivos: geografia, pobreza, trabalho precoce, gravidez, deslocamentos. A tecnologia não exclui — ela conecta. Ela alcança onde o Estado não chega fisicamente. Ela personaliza onde o currículo engessa. Ela adapta onde a estrutura oprime.
A crítica à tecnologia, quando desconectada da realidade dos territórios, é uma forma elitista de manter o velho sistema funcionando para poucos. Uma espécie de “saudosismo de gabinete” que nega o potencial inclusivo da educação híbrida.
Evidências científicas a favor da mediação tecnológica
Diversos estudos recentes, incluindo o Metaestudo de Hattie (2023) e os relatórios da UNESCO (2024-2025), confirmam que a tecnologia, quando intencionalmente mediada por pedagogia e propósito, amplifica os resultados da aprendizagem. O problema nunca foi o “modo de oferta”, mas a ausência de metodologias ativas, intencionalidade didática e formação de professores.
A Rede RIEH, criada pela Portaria MEC nº 865/2022, foi uma das respostas mais promissoras do Estado brasileiro para reconstruir a educação pública após a pandemia. Com foco em formação, infraestrutura, curadoria e repositório digital, a RIEH tem demonstrado que é possível democratizar o acesso à inovação educacional com baixo custo e alto impacto.
E hoje, celebramos um marco histórico: a inauguração oficial da Rede de Inovação para a Educação Híbrida (RIEH), na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) — sede do Observatório Nacional e polo estratégico dessa articulação nacional. A partir daqui, com ciência, compromisso e ação, o Brasil reafirma que inovação não é privilégio, é direito. Que tecnologia não é luxo, é ferramenta de justiça social. A RIEH, agora em funcionamento pleno, representa mais que um programa: é um símbolo da esperança educacional no século XXI.
Criminalizar a tecnologia é interditar o futuro
A reação recente a propostas como EaD no ensino técnico, itinerários híbridos ou uso de AVAs no Novo Ensino Médio escancara uma falácia: a ideia de que o “digital desumaniza”. Ora, o que desumaniza é a exclusão. É manter um jovem da zona rural 3 horas por dia dentro de um ônibus porque “não pode ter aula online”. É obrigar o estudante da EJA a faltar porque precisa trabalhar, quando poderia estudar em horário flexível.
Quando políticas públicas como a RIEH ou o ensino híbrido são atacadas sob o pretexto da “qualidade”, o que se faz na prática é reforçar a desigualdade histórica. É manter o conhecimento enclausurado na geografia e não no acesso.
Educação híbrida é projeto de país, não de governo
Ao invés de demonizar a tecnologia, deveríamos estar discutindo:
Como tornar a internet um direito educacional básico?
Como formar professores para a curadoria digital e a metacognição?
Como modular o currículo para incluir trilhas personalizadas e híbridas?
Como avaliar com inteligência e não apenas com presença?
A educação híbrida é um projeto civilizatório, não um modismo pedagógico. Ela permite combinar o melhor dos dois mundos: o vínculo afetivo presencial e a flexibilidade do digital. Ela respeita o tempo do aluno. Ela valoriza o protagonismo docente. E, acima de tudo, ela traz o Brasil para o século XXI.
Conclusão: quem teme a tecnologia teme a liberdade
Educar não é repetir fórmulas. É libertar potenciais. A crítica à mediação tecnológica esconde, muitas vezes, o medo da autonomia, da descentralização, da quebra dos monopólios pedagógicos.
O que precisamos hoje é coragem — para pensar diferente, ensinar diferente, aprender diferente. A escola não será mais relevante se resistir à mudança. Será relevante se liderar a mudança.
Se a escola é o espaço da transformação, que ela abrace o híbrido não como ameaça, mas como oportunidade. E que a educação mediada por tecnologia seja vista, não como um substituto, mas como uma ponte para uma aprendizagem mais justa, plural e significativa.
