Educação em colapso? O caminho inteligente para fazer mais com menos

Hélio Laranjeira

12/12/20253 min read

A educação brasileira vive, há décadas, em uma encruzilhada entre expectativas grandiosas e estruturas frágeis. O país que deseja inovar, incluir e prosperar ainda convive com déficits estruturais graves, desigualdades territoriais profundas e uma máquina administrativa que, muitas vezes, opera de forma lenta, burocrática e desconectada da realidade concreta das escolas. O resultado é um sistema que exige cada vez mais, entrega muito pouco e funciona com recursos que parecem insuficientes — ainda que, na prática, sejam mal distribuídos, mal priorizados e, em muitos casos, mal aplicados. Existe, portanto, uma profunda distância entre o que se anuncia nos gabinetes e o que se vive diariamente nas salas de aula.

O primeiro desafio é reconhecer que o problema da educação no Brasil não é exclusivamente financeiro; é, sobretudo, gerencial. Não faltam diagnósticos, pesquisas, conferências e discursos sobre a importância da educação. O que falta é execução estratégica com continuidade e disciplina. A verdade incômoda é que o país gasta mais do que imaginamos, mas gasta mal. A estrutura pesada e pouco flexível, somada à descontinuidade de políticas a cada novo ciclo eleitoral, impede avanços consistentes. O professor, colocado no centro da responsabilidade pedagógica, frequentemente não recebe formação adequada, atualização contínua nem condições reais para entregar o padrão de excelência que a sociedade cobra — e ainda é responsabilizado pelos resultados de um sistema que não lhe oferece suporte.

O segundo ponto é a desigualdade estrutural. Não há “a educação brasileira”; há várias realidades distintas convivendo simultaneamente. Enquanto alguns estados e municípios avançam com sistemas de monitoramento, formação continuada inteligente e uso criterioso de dados, outros ainda enfrentam desafios básicos: infraestrutura precária, falta de materiais, ausência de conectividade e instabilidade na gestão. Essa assimetria cria um abismo entre redes capazes de inovar e redes que lutam diariamente apenas para manter a escola funcionando — e esse abismo vem crescendo silenciosamente, ano após ano, comprometendo gerações inteiras.

É nesse cenário que se torna urgente o princípio de “fazer mais com menos”. Não como justificativa para cortes, mas como uma estratégia pragmática diante de um país que não pode esperar abundância para agir. O mundo mudou: as demandas sociais cresceram, o orçamento público se fragmentou e a complexidade da escola aumentou. Fazer mais com menos exige inteligência na gestão, clareza de prioridades e coragem para romper com modelos ultrapassados. Não se trata de improvisar, mas de reorganizar o sistema para que cada recurso — humano, financeiro ou tecnológico — gere impacto real e mensurável. É uma mudança de mentalidade, e não apenas de orçamento.

A escola não pode continuar sendo uma extensão do modelo fabril de 1919, com currículos engessados, metodologias descontextualizadas e profissionais sobrecarregados. É necessário flexibilizar, integrar tecnologias com propósito pedagógico claro e fortalecer a autonomia das escolas para construir soluções alinhadas às necessidades da comunidade. Também é crucial valorizar o professor com ferramentas práticas, e não apenas com discursos inspiradores que não se convertem em melhores condições de trabalho. Além disso, ampliar a capacidade das redes em gerar parcerias, projetos e novas fontes de receita, de forma responsável e alinhada à legislação vigente, tornou-se um componente essencial da sustentabilidade do sistema educacional.

Fazer mais com menos significa, também, empoderar gestores com ferramentas, dados e processos decisórios modernos. É profissionalizar a gestão escolar com o mesmo rigor exigido em qualquer organização de alto desempenho. É substituir a cultura do “não dá” pela cultura do “como vamos fazer”, com metas claras, acompanhamento contínuo e capacidade de corrigir rotas rapidamente. Significa, sobretudo, compreender que eficiência não é inimiga da educação pública — pelo contrário, é a sua única rota de sobrevivência.

A educação brasileira mudará quando a inovação deixar de ser vista como luxo e passar a ser tratada como necessidade vital. Quando o professor receber suporte real, e não apenas cobranças. Quando as redes aprenderem a avaliar, medir e ajustar políticas com transparência e compromisso. E quando governos, gestores e sociedade reconhecerem que fazer mais com menos não é heroísmo: é maturidade institucional. O futuro da educação já começou — e exige inteligência, eficiência e coragem para transformar a escola em um espaço vivo, relevante e sustentável.