Educação com equidade já: O que falta não é diagnóstico, é coragem para agir
Hélio Laranjeira
8/5/20253 min read


Num país como o Brasil, onde o CEP ainda determina o destino de milhões de crianças, falar em equidade educacional parece um clichê bonito — mas vazio. Pior: tornou-se uma expressão repetida em planos de governo, metas do PNE e discursos de secretários, sem que isso tenha se traduzido, de fato, em mudança de vida para quem mais precisa da escola como trampolim social. E isso precisa mudar.
A edição 2024 do relatório Education at a Glance, da OCDE, nos oferece mais do que números: nos oferece um espelho. E o reflexo não é confortável. Entre os dados mais preocupantes, está o de que crianças de famílias de baixa renda têm 18 pontos percentuais a menos de chance de estarem na educação infantil antes dos 3 anos. Um atraso silencioso que, em muitos casos, nunca será compensado. Também chama atenção a estagnação dos resultados de aprendizagem entre os adolescentes de 15 anos, mesmo com maior permanência na escola. Ou seja: estamos conseguindo manter os jovens por mais tempo no sistema educacional — mas sem garantir que aprendam de verdade.
No Brasil, os dados da OCDE se cruzam com a dura realidade cotidiana: milhares de creches sem vagas, escolas com déficit de professores, e milhões de jovens que não estudam nem trabalham, especialmente nas periferias e interiores esquecidos do país.
Então, diante de um diagnóstico tão nítido, o que falta? Não é estatística. Não é argumento técnico. Falta coragem. Falta ação.
Falta implementar uma política pública centrada em três pilares simples, eficientes e transformadores:
Educação Infantil como prioridade absoluta
Nada é mais urgente do que garantir que toda criança tenha acesso à educação infantil de qualidade desde cedo. Não se trata apenas de “cuidar” — trata-se de desenvolver cognitivamente, emocionalmente, socialmente. A neurociência não deixa dúvidas: os primeiros mil dias de vida moldam o futuro. Portanto, um país que falha em garantir creches e pré-escolas inclusivas está, literalmente, comprometendo o amanhã.
Valorização real dos professores
Não há equidade sem educadores bem formados, respeitados e fixados nos territórios mais vulneráveis. Incentivos financeiros são necessários, sim — mas não bastam. É preciso garantir formação continuada, reconhecimento social e condições de trabalho dignas. Um professor bem apoiado pode transformar não apenas uma sala de aula, mas uma comunidade inteira.
Qualificação técnica e empregabilidade para jovens
O Brasil tem uma geração de adolescentes e jovens prontos para aprender e trabalhar, mas abandonados pelas políticas públicas. Conectar educação com mundo do trabalho, com cursos técnicos ágeis, formação empreendedora e certificações modulares, é um passo essencial para quebrar o ciclo da pobreza. E, mais que isso, é uma forma de devolver esperança a quem já quase desistiu da escola.
Essa tríade — primeira infância, valorização docente e qualificação juvenil — forma a base do que deveria ser uma política nacional e municipal chamada Educação com Equidade Já. Porque o tempo da teoria já passou. Já temos leis, metas, pactos, planos e promessas. O que falta agora é prioridade política e vontade de fazer acontecer.
E essa mudança não precisa (e não deve) começar apenas em Brasília. Conselhos municipais, secretarias estaduais, prefeitos e vereadores têm poder de agir já. Com leis locais, fundos municipais, parcerias inteligentes e gestão eficiente, é possível começar uma revolução silenciosa e real — aquela que começa nos primeiros anos da vida e segue até o ingresso no mundo do trabalho.
Que este artigo não seja mais uma opinião a ser esquecida na próxima rolagem de tela. Que ele seja um convite à ação. Porque educar com equidade não é só justo. É urgente. É possível. É agora.
