Educação Brasileira: Entre a Escolarização Reprodutora e a Urgência por Transformação Social

Hélio Laranjeira

6/4/20253 min read

Introdução

A educação brasileira vive um paradoxo: mesmo com o crescimento das taxas de escolarização, os indicadores de aprendizagem e equidade revelam que o acesso não tem se traduzido em transformação. A permanência de estruturas curriculares tradicionais, a rigidez dos sistemas avaliativos e a desvalorização do ensino técnico e profissional reforçam uma lógica de exclusão. Este artigo parte da seguinte pergunta: por que a educação brasileira continua reproduzindo desigualdades, apesar das políticas públicas implementadas?

Problema e Justificativa

O sistema educacional brasileiro apresenta contradições profundas entre o que promete e o que entrega. Programas como o Novo Ensino Médio, embora apresentados como inovações, não conseguem superar a fragmentação curricular, a baixa valorização do professor e a desconexão com a realidade socioeconômica dos estudantes. A urgência de uma transformação não está apenas nas leis, mas nas epistemologias que orientam o pensamento educacional.

Objetivo da Pesquisa

Este artigo busca compreender os entraves estruturais e epistemológicos que perpetuam desigualdades na educação brasileira e, a partir disso, propor caminhos alternativos sustentados por uma visão crítica, integradora e inovadora de educação.

Referencial Teórico

  • Teoria Crítica da Educação

    Autores como Paulo Freire (2000) e Henry Giroux (2008) defendem que a educação precisa romper com o modelo bancário e se tornar um espaço de diálogo e consciência crítica. O conhecimento deve emancipar, não domesticar.

  • Sociologia da Educação

    Bourdieu (1975) demonstrou que a escola reproduz o capital cultural das classes dominantes. No Brasil, esse processo se intensifica pelo abismo entre escola pública e privada.

  • Educação Inovadora e Disruptiva

    Autores como Cristensen et al. (2008) e Moran (2020) defendem a personalização do ensino e o uso de tecnologias para enfrentar os limites dos modelos educacionais padronizados.

Epistemologia Adotada

Opta-se por uma epistemologia crítica-interpretativa, que parte da premissa de que o conhecimento é construído a partir das relações sociais e está atravessado por disputas de poder. Esta visão reconhece o papel do sujeito na construção da realidade e valoriza métodos que promovam escuta, interpretação e intervenção.

Metodologia

A pesquisa é de natureza qualitativa, com abordagem crítica-compreensiva. Utiliza-se: análise documental (PNLD, Novo Ensino Médio, Portarias do MEC), revisão de literatura científica e estudos de caso de experiências disruptivas de ensino técnico e EaD.

Resultados e Discussão

A análise aponta que os entraves à transformação da educação brasileira estão menos na ausência de políticas e mais na falta de coragem epistemológica para romper com modelos coloniais, normativos e elitistas de aprendizagem. O desprezo à educação técnica, a lentidão na implementação de tecnologias e a centralização curricular são exemplos de como a estrutura educacional desconsidera as realidades locais e os arranjos produtivos regionais.

Propostas de Transformação

  • Revalorização da educação técnica e profissional como motor de desenvolvimento regional e inclusão social;

  • Uso estratégico da EaD com mediação tecnológica e inteligência artificial para alcançar territórios vulneráveis;

  • Reforma epistemológica na formação docente, incorporando metodologias ativas e pensamento crítico;

  • Adoção de currículos flexíveis, alinhados às realidades locais e ao protagonismo estudantil;

  • Financiamento público voltado à inovação educacional, com indicadores de impacto social e empregabilidade.

Considerações Finais

A educação brasileira precisa de mais do que reformas administrativas: precisa de revolução epistêmica. Enquanto a escola servir à reprodução e não à transformação, o Brasil continuará a formar gerações que sabem ler, mas não interpretam o mundo, que conhecem fórmulas, mas não criam soluções. A educação precisa deixar de ser apenas um direito formal e tornar-se uma ferramenta real de mudança estrutural.

Referências Bibliográficas

  • BOURDIEU, P. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.

  • CHRISTENSEN, C.; HORN, M.; JOHNSON, C. Inovação na educação: um novo modelo para transformar as escolas. Porto Alegre: Bookman, 2008.

  • FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

  • GIROUX, H. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 2008.

  • MORAN, J. M. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. Campinas: Papirus, 2020.