E se Paulo Freire usasse Inteligência Artificial?
Hélio Laranjeira
10/16/20252 min read


Imagine a cena.
Paulo Freire, sentado diante de um notebook, óculos na ponta do nariz, abrindo o ChatGPT.
O homem que alfabetizou com tijolo, chão batido e palavra geradora, agora diante de uma IA generativa. O mestre da pedagogia libertadora, dialogando com um algoritmo.
Seria lindo. Ou perigoso. Ou as duas coisas.
A pedagogia do oprimido… e do processador
Se Paulo Freire usasse Inteligência Artificial, talvez criasse o “ChatFreire”.
Um robô que, em vez de dar respostas prontas, devolveria perguntas libertadoras:
— “O que você sente quando lê isso?”
— “De quem é essa voz que te fala?”
— “Você pensa… ou está sendo pensado?”
Mas também é possível imaginar Freire franzindo a testa, ao ver um aluno pedindo para o Chat escrever sua redação. “Meu filho, isso não é dialogar com o mundo! Isso é terceirizar o pensamento!” Diria, indignado. E com razão.
Faria mais com menos… ou só o que sempre fez?
A verdade é que Paulo Freire faria mais com menos.
Usaria a IA não para substituir o professor, mas para potencializar a consciência.
Usaria o algoritmo para libertar o tempo, não para aprisionar a mente.
Freire usaria a IA para gerar perguntas, não respostas.
Transformaria o metaverso em círculo de cultura.
E faria das redes sociais o novo pátio da escola popular.
Transformaria dados em diálogo e tecnologia em terreno fértil para reflexão.
Mas também é possível que Freire não mudasse nada.
Afinal, a essência de sua pedagogia era simples e eterna: educar é humanizar.
E isso, nem a IA — nem o Wi-Fi — podem fazer por nós.
IA sem consciência é só máquina
Freire talvez dissesse hoje:
“Não me preocupa o robô que pensa,
mas o humano que deixou de pensar.”
E talvez sua frase mais famosa: “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho, os homens se educam em comunhão” ganhasse uma nova versão:
“Ninguém educa ninguém…
nem a IA educa ninguém.
Mas juntos, podemos aprender mais e melhor.”
E se Paulo Freire vivesse na era digital?
Talvez não escrevesse mais Pedagogia do Oprimido.
Talvez escrevesse Pedagogia do Algoritmo.
Talvez dissesse que o novo oprimido é o usuário passivo, e o novo libertador é o educador criativo - aquele que não teme a IA, mas a usa como ferramenta de emancipação.
Freire, com IA, não seria analógico. Seria amplificado.
Continuaria questionando o poder, mas agora com Wi-Fi, consciência crítica e prompts bem escritos.
Se Paulo Freire usasse Inteligência Artificial, ele faria o que sempre fez:
ensinar o mundo a pensar. Mas com um toque de modernidade.
E talvez, só talvez,
abrisse uma live dizendo:
“Companheiros e companheiras,
a revolução agora é digital.
E a alfabetização é de dados.”
