Do fusca ao 5G - E além: O dever de contribuir no século da inteligência
Hélio Laranjeira
6/9/20252 min read


Você sobreviveu a muito mais do que o tempo. Você atravessou gerações, revoluções culturais, tecnológicas e emocionais. Não apenas esteve vivo no século XX - você ajudou a construí-lo. E agora, diante da avalanche digital que nos cerca, seu papel não é o de espectador nostálgico. É o de farol para uma geração à deriva.
De quando tudo era feito à mão... ao toque de um dedo.
Quem foi "pão" e amou um "broto", dançou em bailes de garagem à luz negra, sabe o que é afeto analógico - aquele que não precisava de wi-fi, mas exigia presença. Quem vestiu cacharrel, usou Topeka, brilhou com Glostora, não fazia "trend", fazia história.
A infância era com rolimã, bola de meia, amarelinha no cimento quente da rua. A saúde era Biotônico Fontoura, Emulsão Scott e a fé no feijão. A tecnologia era uma TV Telefunken com bombril na antena e, ainda assim, havia encantamento.
Hoje, temos 5G, comandos por voz, inteligência artificial. Mas o que nos falta?
Do contraste entre épocas à responsabilidade de quem viveu as duas.
Você que viu o homem pisar na Lua, hoje vê jovens escorregarem em bolhas digitais e "reels" que passam mais rápido que o aprendizado. Você que trocava gibis, hoje vê adolescentes trocando de identidade nas redes a cada semana. Você, que mandava cartas escritas com papel almaço, vê emojis substituírem palavras com alma. Você que via o Brasil torcer junto, agora assiste à fragmentação da opinião pública e à banalização da experiência.
Mas o mais impressionante é: você ainda está aqui.
E por estar aqui, precisa ser mais do que lembrança. Precisa ser guia.
A era do pós-5G precisa de propósito.
Chegamos ao ápice da velocidade, mas ao abismo do sentido.
Inteligência artificial, metaverso, neurociência, educação digital, algoritmos e plataformas estão redesenhando o mundo. Mas sem ética, sem memória, sem humanidade... tudo isso será só uma nova forma de exclusão.
Quem viveu a transição do mimeógrafo ao ChatGPT, da ficha telefônica ao WhatsApp, tem algo valioso nas mãos: perspectiva.
Você viu o mundo com e sem filtro. Você sabe quando a tecnologia conecta... e quando aprisiona.
Não basta ter sobrevivido. É preciso intervir.
Você não é um sobrevivente do tempo. É um agente da história.
O Brasil precisa da sua vivência.
As novas gerações precisam do seu bom senso.
As escolas precisam da sua sabedoria.
O futuro precisa da sua ousadia.
Não se aposente da sua missão.
Não terceirize sua experiência.
Se ontem você construiu com tijolo e suor, hoje pode construir com palavra, com exemplo, com ponte.
Se ontem sua casa foi de alvenaria, hoje sua influência pode ser digital.
Você não está fora do jogo - você está no centro dele.
Uma convocação final.
Aos que atravessaram gerações, sobreviveram às revoluções e ainda têm muito a ensinar:
Este é o seu momento de ressignificar a experiência.
Não aceite ser esquecido.
Não aceite ser ultrapassado.
Não aceite ser apenas saudade.
Seja direção. Seja testemunho. Seja futuro em movimento.
Porque se o passado te construiu, agora é a sua vez de construir o amanhã.
