Do ensino ao futuro: A verticalização curricular é o caminho que o Brasil precisa seguir

Hélio Laranjeira

8/8/20253 min read

No Brasil, ainda é comum o ensino médio ser um fim em si mesmo – uma etapa obrigatória, burocrática e muitas vezes sem propósito concreto. Mas há exceções. E essas exceções deveriam ser replicadas como modelo, não como privilégio. É o caso da história inspiradora de Jorge Terence, jovem de 19 anos de São Bernardo do Campo (SP), que escolheu, ainda na adolescência, uma trajetória ousada: sair da escola com três diplomas – ensino médio, técnico e tecnólogo – em apenas cinco anos.

Isso só foi possível graças à chamada Articulação da Formação Profissional Média e Superior (AMS), uma proposta ousada do Centro Paula Souza que ressignifica a educação ao promover a verticalização curricular. E o que isso significa, na prática? Que as competências e disciplinas do curso técnico não são simplesmente descartadas no ensino superior, mas sim aproveitadas, aprofundadas e valorizadas. Um salto lógico e estratégico: menos tempo, mais formação, mais empregabilidade.

Jorge é hoje um dos muitos alunos da ETEC e da FATEC que já entenderam que o mundo não espera. Enquanto muitos jovens ainda vivem o drama do vestibular, da indecisão e da falta de perspectiva, ele já está em vias de concluir sua graduação tecnológica em Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Aos 19. E mais importante: preparado para trabalhar, criar, liderar.

Por que isso não é política nacional?

A pergunta que não quer calar é: por que esse modelo ainda está restrito a uma autarquia estadual paulista? O Centro Paula Souza administra 228 escolas técnicas e 79 faculdades de tecnologia em São Paulo. Destas, 89 instituições já operam com formação integrada. O modelo funciona, é eficaz, reconhecido pelo mercado – e muda vidas. Mas, enquanto isso, a maior parte do Brasil continua presa a estruturas arcaicas, onde o ensino técnico é isolado, desvalorizado e muitas vezes marginalizado.

É preciso coragem para reconhecer que o ensino técnico não é plano B, mas sim o plano A para milhões de jovens brasileiros que não podem – e não querem – esperar oito anos para conseguir um diploma e, talvez, um emprego. A verticalização é o modelo do século XXI: eficiente, inteligente e conectado às necessidades reais da sociedade.

Três diplomas em cinco anos: utopia ou inovação real?

O discurso da eficiência, muitas vezes, é confundido com pressa. Mas há uma diferença crucial entre acelerar e otimizar. O que o AMS promove é uma trilha formativa contínua e coerente, onde o conhecimento técnico não é descartado, mas sim expandido. Lógica de programação, por exemplo, já estudada no curso técnico, não precisa ser repetida no superior. Parece óbvio? Pois ainda não é regra no Brasil. Em boa parte das universidades, a duplicação de conteúdos é rotina – e desperdício.

O Brasil precisa de milhões de Jorges

A realidade atual é cruel: o país carece de ao menos 5 milhões de técnicos, mas forma pouco mais de 1,5 milhão. E isso se arrasta há décadas. Enquanto países como Alemanha, Canadá e Estônia investem pesadamente na formação técnica integrada, o Brasil ainda luta para regulamentar o ensino médio técnico de forma sistêmica e nacional.

Está na hora de mudar. De colocar a verticalização curricular como diretriz estratégica no Plano Nacional de Educação. De incentivar arranjos produtivos locais com itinerários formativos reais. De valorizar a inteligência de quem aprende com as mãos, com a prática, com propósito. E de compreender que educação de qualidade também é aquela que forma profissionais para transformar comunidades.

O que propomos

Transformar a verticalização curricular em política pública nacional. Isso inclui:

  • Legislação federal que reconheça e incentive equivalência entre currículo técnico e superior tecnológico;

  • Expansão do regime de colaboração entre redes públicas e privadas, com foco em formação integrada;

  • Financiamento específico (como um FIES técnico) para alunos da trilha verticalizada;

  • Uso da Educação a Distância de forma estratégica para ampliar o alcance do modelo;

  • Valorização dos tecnólogos no mercado de trabalho e no setor público.

Conclusão: da exceção à política de Estado

A verticalização curricular já provou que é possível fazer mais com menos – com menos tempo, menos burocracia, menos desperdício. Mas com mais formação, mais dignidade, mais futuro.

O exemplo do jovem Jorge não deve ser exceção celebrada. Deve ser regra replicada. Porque educação não pode ser só diploma. Precisa ser trampolim. E o Brasil precisa, urgentemente, de milhões de trampolins para levantar os sonhos de sua juventude.