Do diploma à demissão: Como a IA está rindo do nosso modelo de empregabilidade
Hélio Laranjeira
8/13/20252 min read


Por mais de um século, o Brasil cultuou um modelo de educacional que, na prática, é um excelente treinamento… para provas. Formamos estudantes que sabem conjugar verbos no pretérito mais-que-perfeito, mas não conseguem preencher um currículo que agrade ao algoritmo de um software de recrutamento. Não é culpa deles ,̶é culpa de um sistema que confunde “escolarização” com “educação” e acha que empregabilidade é “passar no concurso”. Mas eis que chega a Revolução da Inteligência Artificial, e com ela um detalhe constrangedor: a IA não quer saber quantos diplomas você colecionou, mas o que você realmente sabe fazer. E pior: ela é muito boa em descobrir quando você está blefando.
No mundo pré-IA, o currículo era um cartão de visitas. Hoje, é apenas a senha de entrada para um filtro automatizado que analisa palavras-chave, métricas e competências. É o que chamo de Moeda da Empregabilidade 4.0:
Competência aplicável: saber fazer, não só saber dizer.
Aprendizado contínuo: porque a tecnologia dobra de capacidade a cada 18 meses (Lei de Moore), mas o seu diploma é de validade duvidosa.
Verticalização inteligente: subir na carreira conectando técnica, prática e especialização, não apenas colecionando certificados.
Enquanto isso, o Brasil continua tratando o Ensino Técnico como uma opção “menor”, mesmo sendo ele a ponte mais curta entre juventude e mercado.
O presidente da TOTVS já alertou: “Estamos à beira de um apagão sistêmico de capital humano”. A frase é elegante, mas eu traduzo: vai faltar gente que saiba fazer o que precisa ser feito. E o mais irônico? Não é só o trator que vai parar por falta de mecânico, ou a linha de produção por falta de técnico em automação. Vai faltar profissional até para manter as próprias inteligências artificiais funcionando. A IA está nos obrigando a admitir o que fingíamos não ver: empregabilidade não é diploma, é competência mensurável.
Imagine o Brasil em 2030. - Os vestibulares ainda cobram detalhes da Revolução de 1848, mas ignoram programação em Python. - O currículo escolar ainda dedica anos à análise de orações subordinadas, mas não ensina a montar um pitch para investidores. - Jovens de 20 anos são considerados “sem experiência” porque não tiveram a chance de trabalhar, e “inempregáveis” porque não têm pós-graduação. Enquanto isso, a IA já está treinando novas IAs para fazer boa parte do trabalho humano ̶ e sabe quem vai sobrar? O técnico que sabe integrar sistemas, o especialista que entende processos, e o profissional que consegue resolver problemas sem manual de instruções.
Está na hora de parar de medir a educação pelo número de horas em sala de aula e começar a medir pelo impacto que ela gera na vida do estudante. É urgente:
Valorizar o Ensino Técnico com incentivos concretos, como a bonificação no Enem e vestibulares para quem se formou na área e quer verticalizar sua carreira.
Integrar IA ao currículo desde a educação básica, não como modinha, mas como ferramenta de empregabilidade.
Ensinar o aprender contínuo porque, na era da IA, a formação nunca termina.
Se não fizermos isso, seremos o país que treinou uma geração inteira para competir por empregos que… já não existem.
Conclusão satírica, mas verdadeira: A IA não veio para roubar nossos empregos. Ela veio para roubar as desculpas que usamos para justificar nossa falta de preparo. E talvez, só talvez, seja exatamente essa a revolução de que precisávamos.
