Corrupção da virtude: Quando o bem se torna escudo do mal

Hélio Laranjeira

6/26/20253 min read

Há uma perversão silenciosa e devastadora que cresce à sombra das melhores intenções: a corrupção da virtude. Trata-se de um fenômeno onde o que é originalmente nobre – como justiça, solidariedade, inclusão, meio ambiente, diversidade ou educação – é sequestrado por interesses que, muitas vezes, usam a bandeira do bem para encobrir práticas pouco éticas ou até criminosas. Estamos diante de uma ética de vitrine, onde o discurso é virtuoso, mas a prática é oportunista.

Virtudes sequestradas: o bem em disfarce

Quem combate o mal em nome do bem pode acabar se tornando o mal disfarçado de bem. A frase parece um paradoxo, mas reflete com precisão a dinâmica perversa de muitas iniciativas contemporâneas. A virtude é usada como biombo para ganhos ilegítimos, manipulação ideológica ou puro narcisismo moral.

Na Amazônia, por exemplo, não é raro ver ONGs internacionais que, sob o pretexto de proteger a floresta, agem como braços geopolíticos de interesses estrangeiros. Enquanto discursam sobre sustentabilidade, algumas recebem vultosos recursos que jamais chegam às comunidades ribeirinhas. O meio ambiente é um valor nobre, mas se tornou escudo de uma diplomacia verde que, em alguns casos, é mais colonialista do que ecológica.

Trocadilho freiriano:

“Não é ONG, é ON-Golpe.”

“Não é floresta preservada, é narrativa preservativa.”

O ativismo da performance: a nova corrupção simbólica

A corrupção da virtude também se manifesta na transformação da causa em espetáculo. O ativismo performático substitui a ação concreta. A educação vira um palco de vaidades, onde discursos sobre inclusão escondem incompetência institucional. O feminismo vira produto de marketing, a diversidade vira cota de likes, a justiça social vira hashtag.

No fundo, o que vemos é o desvirtuamento da virtude. A causa é vendida, manipulada e instrumentalizada. Há quem se auto-intitule “guardião do bem”, mas use a virtude como capital simbólico para silenciar críticas e blindar interesses. É o que chamo de “ética do lacre com verniz ético”.

Educação: a pedagogia do oportunismo

A própria educação, que deveria libertar, foi sequestrada por agendas que excluem a razão em nome de uma suposta empatia. Muitos bradam em nome de Paulo Freire, mas não libertam: aprisionam. Transformaram o pedagogo do oprimido em doutrinador do engajado. A “consciência crítica” virou “consciência partidária”. E, ironicamente, o diálogo foi substituído por monólogos ideológicos.

Trocadilho freiriano:

“Não é pedagogia do oprimido, é pedagogia do convencido.”

“Não é escola de liberdade, é cabresto em PDF.”

A indústria da dor e o marketing da compaixão

Instituições caridosas que desviam doações. Movimentos de inclusão que excluem quem pensa diferente. Programas sociais que mantêm a pobreza para justificar sua própria existência. O vício se esconde na virtude. É a lógica da “miséria produtiva”: manter o problema para que o projeto nunca termine.

Trocadilho institucional:

“Não é ONG, é ONGanância.”

“Não é combate à fome, é fama com verba pública.”

“Não é inclusão, é ilusão financiada.”

Conclusão: A verdadeira virtude é incorruptível

A virtude verdadeira não precisa de palco, patrocínio ou propaganda. Ela se revela na ação silenciosa, na coerência entre discurso e prática, na ética que não muda de cor conforme o partido no poder. O maior combate que precisamos travar hoje não é contra o mal declarado, mas contra o bem disfarçado de bondade, travestido de salvador e blindado pela imunidade moral da “causa”.

Precisamos recuperar a virtude das mãos de seus corruptores simbólicos. A corrupção da virtude é, talvez, o pecado mais grave do nosso tempo. Porque ela não rouba só dinheiro ou poder. Ela rouba a esperança, o ideal, a verdade.

Nota do autor:

Este texto é uma freiriana contemporânea. Não contra Paulo Freire, mas contra a caixa que construíram em seu nome. Uma caixa que aprisiona o pensamento, disfarçada de libertação. Que este artigo seja um convite à lucidez, à desconfiança justa e à reconstrução da virtude como caminho e não como disfarce.