A substituição de profissões, o surgimento de novas funções e o desafio da educação
Hélio Laranjeira
12/11/20253 min read


A fala do CEO da Uber sobre veículos autônomos substituiram motoristas humanos é apenas a ponta mais visível de uma transformação muito maior: não estamos diante de uma mudança no setor de transportes, mas de um rearranjo estrutural do trabalho humano.
O que está acontecendo com motoristas hoje vai acontecer com contadores, atendentes, operadores, revisores, analistas, professores especializados, técnicos, auxiliares — enfim, uma parcela gigantesca da força de trabalho que atua majoritariamente em funções repetitivas, previsíveis ou baseadas em roteiros fixos.
O núcleo da questão: não é sobre carros — é sobre funções humanas substituíveis
Quando o CEO da Uber diz que “robôs não se distraem”, ele não está falando de direção; ele está falando de precisão, velocidade e custo.
E tudo o que pode ser executado com precisão, velocidade e baixo custo será otimizado por algoritmos e robôs.
Isso significa:
A automação não é setorial — ela é transversal.
Não é um fenômeno “do futuro” — ela está acontecendo agora.
A pergunta não é “que profissões vão sumir?” — mas “que habilidades continuarão sendo humanas?”.
Ao mesmo tempo que funções desaparecem, novas profissões surgem — mas exigem outro tipo de mente
Cada revolução tecnológica trouxe profissões novas —
mas elas nunca absorveram todas as pessoas que perderam seus empregos com as mesmas qualificações.
Agora, essa discrepância será ainda maior.
As novas profissões que surgem pedem:
pensamento crítico,
criatividade,
resolução de problemas complexos,
liderança,
comunicação,
colaboração,
autonomia,
capacidade de aprender continuamente.
Chamamos isso de soft skills, mas, na prática, são as habilidades que tornam o ser humano insubstituível frente à máquina.
A máquina faz o trabalho; o humano faz a estratégia.
A máquina executa; o humano decide.
A máquina repete; o humano interpreta.
A máquina calcula; o humano cria.
A grande inversão: o homem agora adapta-se à máquina — e não o contrário
Durante séculos, as máquinas surgiam para ajudar o homem.
Agora, é o humano que precisa se adaptar ao ritmo, ao desempenho e à lógica das máquinas.
É a inversão histórica:
Antes: o trabalho era braçal e a mente era auxiliar.
Agora: o trabalho é racional e a força física se torna irrelevante.
Antes: o humano conduzia a máquina.
Agora: a máquina conduz os processos, e o humano precisa orquestrar.
E isso muda tudo.
O impacto direto na educação: o modelo atual está ensinando para um mundo que não existe mais
A escola continua:
conteudista,
cartesiana,
centrada na memorização,
preocupada em ensinar regras que uma IA já executa melhor.
Isso significa que as escolas estão formando jovens para competir com aquilo que a máquina sabe fazer melhor que eles.
Para sobreviver no novo mercado, as escolas precisam mudar seu propósito:
O que a escola deve formar agora?
Mentes estratégicas, não repetidoras
Porque o trabalho repetitivo será eliminado.
Pessoas que resolvem problemas, não que decoram fórmulas
Porque a fórmula, a máquina devolve em milissegundos.
Alunos capazes de criar, inovar e interpretar
Porque criatividade ainda é vantagem humana.
Competências socioemocionais (soft skills)
Colaboração, comunicação, negociação, empatia, liderança — essas habilidades não estão sendo automatizadas.
Capacidade empreendedora
Não apenas para abrir negócios, mas para pensar como dono, assumir riscos, resolver obstáculos e gerar valor.
Convivência com tecnologia, IA e robótica
Não de forma marginal, mas como centralidade pedagógica.
A nova aprendizagem: menos quadro-negro, mais laboratório
As escolas precisam se tornar:
laboratórios de inovação,
centros de resolução de problemas reais,
ambientes de projetos,
ecossistemas de criatividade e experimentação.
Os alunos devem aprender:
fazendo,
testando,
errando,
criando,
simulando,
projetando.
Porque, no novo mundo, quem não erra não aprende — e quem não aprende rápido, fica para trás.
A mensagem final para gestores escolares
As escolas precisam compreender que a mudança não começa nos carros autônomos.
Eles são só o cartão de visita.
A revolução está acontecendo:
no direito,
na medicina,
na engenharia,
na comunicação,
na indústria,
nos serviços,
na produção,
na logística,
e até na educação.
Se a escola continuar entregando um ensino analógico a um mundo digital, estará condenando seus alunos a empregos que deixarão de existir.

