A santidade dos que já não são santos

Hélio Laranjeira

8/6/20251 min read

O Brasil — e talvez o mundo — sofre de uma doença crônica: a síndrome dos santos reciclados. Personagens que já posaram como heróis da moral, defensores do bem comum, mas que hoje desfilam como embaixadores do cinismo.

A santidade, antes pregada nos púlpitos e nas praças, agora se encontra nas redes sociais, em discursos prontos de influenciadores que vendem autenticidade em pacotes de stories patrocinados. O mártir de ontem é o palestrante bem pago de hoje. O monge de outrora virou CEO de startup com propósito.

A corrupção da virtude é isso: não é a negação do bem, é a sua transformação em produto. Os santos de hoje não multiplicam pães, multiplicam seguidores. Não pregam sermões, mas palestras. Não carregam cruzes, mas hashtags. E, como toda mercadoria, a virtude também tem seu preço — ajustado em dólar, com variação cambial.

A santidade corrompida veste terno slim fit, fala em nome da esperança, mas assina contratos com multinacionais. O problema não é o lucro; o problema é o lucro travestido de pureza. E nós, espectadores dessa missa pagã, aplaudimos, compramos ingressos e ainda pedimos bis.

No fim das contas, não há mais santos. Há ex-santos, ex-devotos da pureza, e uma multidão de fiéis da hipocrisia. A santidade virou carreira. O céu virou palco. E a salvação, negócio.