A Educação Profissional e Tecnológica não pode esperar o próximo trem — porque ele já passou
Hélio Laranjeira
9/2/20253 min read


O Brasil tem pressa. Não é exagero retórico; é constatação prática. Enquanto a inteligência artificial reorganiza profissões e redefine rotinas, ainda insistimos em formar jovens para empregos que, convenhamos, já não existem. É como treinar datilógrafos em plena era do Chat um contrassenso pedagógico digno de ser exposto em museu, não em sala de aula.
A atualização das Diretrizes Curriculares da Educação Profissional e Tecnológica (EPT) não é, portanto, um capricho legislativo. É sobrevivência. Ou fazemos agora, ou condenamos gerações inteiras a repetir o ciclo vicioso: diploma bonito, carteira vazia.
O mundo mudou — e o Brasil insiste em ensaiar
Enquanto a IA automatiza o repetitivo e amplia o humano, ainda discutimos se “usar simulador” vale como prática profissional. Enquanto produtos e cadeias se regionalizam, seguimos acreditando que uma única lista nacional de cursos atende tanto ao Sertão quanto à metrópole. Enquanto o trabalho pede ciclos curtos de aprendizagem, ficamos agarrados à lógica antiquada do “formar e pronto”.
É uma espécie de síndrome de caranguejo pedagógico: quando o mundo anda para frente, nós nos puxamos para trás.
O objetivo não é mais diploma: é dignidade
O verdadeiro norte desta mudança não é produzir mais papel timbrado, mas gerar empregabilidade real com equidade. O que significa isso? Que um jovem do interior com acesso a polos móveis de laboratório deve ter as mesmas condições de inserção no mercado que o estudante da capital. Que reconhecer o notório saber de um mestre do trabalho é tão válido quanto um diploma impresso com firulas douradas.
Educação não é cartório; é ponte entre talento e oportunidade.
Inovações que não podem ficar no PowerPoint
Flexibilidade curricular não é moda, é necessidade. Microcredenciais e certificações empilháveis não são capricho acadêmico, mas ferramentas para que cada trabalhador avance no seu ritmo. Simuladores, realidade aumentada e laboratórios remotos não são brinquedos futuristas, mas os novos “quadros negros” da sala de aula.
E o regime de colaboração? Esse precisa deixar de ser promessa em portaria para virar prática em território. Afinal, não é falta de asfalto que deve impedir a chegada da EPT — é falta de decisão política.
Como fazer mais com menos?
Multiplicar a presença do professor com tecnologia não significa substituí-lo por um robô. Pelo contrário: significa liberar o educador do repetitivo para que ele se concentre no essencial — formar cidadãos críticos, competentes e produtivos.
Formar quem forma, com metodologias ativas e uso ético da IA, é condição básica para não termos professores analógicos em tempos digitais. Criar polos móveis e residências tecnológicas é obrigação de quem leva a sério a Meta 11 do PNE.
Se não fizermos isso, não é falta de recurso; é excesso de preguiça institucional.
Liberdade com direção: o equilíbrio que nos falta
Diretrizes não são grilhões. São balizas que asseguram que autonomia não vire abandono. Resultados de aprendizagem claros, itinerários flexíveis, prática estruturada e inclusão radical: esse é o quadrado mágico da qualidade.
Mas atenção: regular não é engessar; é possibilitar. A escola sabe onde o calo aperta. Cabe ao sistema garantir que, seja qual for o CEP, o estudante tenha direito ao mesmo horizonte de dignidade.
O chamado
Atualizar a EPT é escolher o futuro — e fazer isso agora. Não dá mais para empurrar a decisão para comissões, reuniões e relatórios que nunca chegam ao chão da escola. O estudante que hoje sonha com um emprego não pode esperar pela “próxima reforma”.
Porque, sejamos francos: o próximo trem já passou. A pergunta é se vamos continuar na plataforma reclamando do barulho, ou se vamos construir trilhos novos para levar a juventude ao destino que merece — um trabalho digno, produtivo e humano.
Afinal, de que adianta formar para o passado, se o futuro já está no presente?

