A Balada do “Todos sem educação”
(Uma sátira freiriana sobre o mantra da hipocrisia nacional)
Hélio Laranjeira
11/12/20252 min read


Dizem por aí:
“Todos pela Educação.”
Bonito, né?
Tão bonito… que virou slogan de quem nunca entrou numa sala de aula pública,
de quem confunde giz com PowerPoint,
de quem acha que inclusão é apertar “admitir” no Zoom.
“Todos pela Educação.”
Mas…
Quem são esses “todos”?
Porque na prática, o que a gente vê é o contrário:
Todos sem educação.
Todos sem educação…
quando se debate inovação,
mas se proíbe o novo com o selo da burocracia.
Todos sem educação…
quando o professor é herói no discurso,
mas vilão no orçamento.
Todos sem educação…
quando a escola vira estatística,
e a criança, um dado.
É o mantra da balada da hipocrisia nacional.
Todo mundo “pelo futuro”,
mas ninguém larga o passado.
Todo mundo aplaude o “ensino inovador”,
mas ainda imprime bilhete pra reunião de pais.
Todo mundo fala em “inteligência artificial”,
mas a escola ainda briga com o Wi-Fi.
Todo mundo quer “competências do século XXI”,
mas ensina como se fosse 1910.
“Todos pela Educação”…
mas ninguém pela conexão.
“Todos pela Educação”…
mas ninguém pela colaboração.
“Todos pela Educação”…
mas ninguém pela libertação.
Paulo Freire, se estivesse aqui,
diria com aquele sorrisinho de esquina:
“Engraçado… tanto ‘todos’…
e tão pouca educação.”
Então vamos inverter o jogo.
Vamos assumir o trocadilho,
porque talvez só o sarcasmo ainda eduque:
“Todos sem educação”
sem medo de dizer que o rei está nu.
Sem medo de mostrar que o problema não é falta de escola,
é falta de sentido.
Sem medo de afirmar que o novo não é inimigo do humano,
é a extensão daquilo que o humano sempre sonhou ser.
Porque enquanto eles gritam “Todos pela Educação”,
a gente trabalha por dentro,
criando ecossistemas que respiram,
plataformas que libertam,
e escolas que finalmente… pensam.
Sim, pode continuar o refrão —
mas agora com o som certo:
“Todos sem educação…”
até que a gente crie um país
onde educar não seja um slogan,
mas um ato de coragem.

